Flávio Bolsonaro dá recado ‘direto’ ao mercado ao tentar se descolar do pai, dizem analistas

Flávio Bolsonaro dá recado ‘direto’ ao mercado ao tentar se descolar do pai, dizem analistas
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Carlos Moura/Agência Senado

Carlos Moura/Agência Senado - 3.12.2025

A declaração do senador e pré-candidato à Presidência Flávio Bolsonaro de que pretende dar continuidade, na área econômica, ao que foi feito pelo ex-ministro Paulo Guedes foi interpretada por analistas como um movimento calculado para reposicionar sua imagem política e acalmar o mercado financeiro.

 

Afinal, o mesmo mercado reagiu com desconfiança ao anúncio de sua pré-candidatura à Presidência da República.

 

Segundo o cientista político Márcio Coimbra, CEO da Casa Política, ao citar Paulo Guedes, Flávio enviou um recado “direto e urgente” ao mercado, público que tem demonstrado resistência ao seu nome.

 

“Ao fazer essa associação, o senador busca imediatamente transmitir uma imagem de confiabilidade fiscal e previsibilidade a setores-chave, especialmente o mercado financeiro, que exige disciplina nas contas públicas e reformas estruturais”, afirmou.

 

Coimbra avalia que o movimento visa legitimar sua postulação ao herdar a bandeira do liberalismo econômico, representada por Guedes, o que inclui a defesa da responsabilidade fiscal e da redução da máquina estatal.

 

“É um recado direto ao mercado e, simultaneamente, parte de uma estratégia mais ampla de posicionamento eleitoral”, apontou o especialista.

 

Discurso que atende os liberais
Eleitoralmente, a evocação ao “legado Guedes” também mira os liberais que rejeitam intervenções estatais e valorizam a responsabilidade fiscal.

 

“O compromisso com o liberalismo ajuda a consolidar o apoio de uma base de eleitores e grupos de interesse (setor produtivo, empresariado, classe média alta) que valorizam a eficiência do mercado e são avessos ao intervencionismo estatal”, explica Coimbra.

 

Para o cientista político, o movimento também funciona como uma tentativa de distanciamento da condução econômica do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcada por episódios de expansão de gastos e práticas consideradas patrimonialistas por parte do mercado.

 

Ao se apoiar na figura de Paulo Guedes, Flávio procura reforçar a ideia de que uma eventual gestão sua estaria alinhada à agenda de austeridade e liberalismo, reduzindo ruídos associados ao governo do pai.

 

Resgate de pilares centrais
O economista César Bergo, professor de mercado financeiro da UnB (Universidade de Brasília), avalia que a estratégia de Flávio dialoga diretamente com o mercado ao resgatar pilares centrais da política econômica conduzida por Guedes.

 

Isso significa a defesa de um Estado menor, a tentativa de avançar privatizações, a resistência ao aumento de tributos e a concentração de decisões fiscais no Ministério da Economia.

 

Ele destacou que mencionar Guedes ativa uma memória de agenda liberal que, na visão de parte dos investidores, contrasta com o cenário atual de expansão de gastos e elevação de impostos.

 

O professor também destaca que houve entraves importantes durante aquele período, como o fortalecimento do Congresso na disputa pelo orçamento e medidas criticadas pelo mercado, entre elas o adiamento do pagamento de precatórios.

 

Mercado ainda digere Flávio
Aliás, esse último ponto, segundo Bergo, pode reabrir dúvidas sobre o compromisso real de uma eventual gestão de Flávio em evitar práticas que adiem obrigações fiscais. No entanto, o especialista assegura que o senador não é visto como um nome competitivo para 2026.

 

Para ele, o mercado pode gostar da agenda, mas não necessariamente do candidato.

 

“O mercado ainda não digeriu a escolha do Flávio. Ele é considerado muito fraco para concorrer. […] Enquanto essa percepção permanecer, o mercado vai ficar nessa volatilidade, nessa incerteza a que nós estamos assistindo.”

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