Tarcísio tenta conciliar defesa de Bolsonaro, ida ao 7/9 e discrição

Tarcísio tenta conciliar defesa de Bolsonaro, ida ao 7/9 e discrição
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Governador de São Paulo vem sendo alvo de críticas do bolsonarismo mais radical e dos filhos do ex-presidente

Reprodução

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que disse ter

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que disse ter “convicção absoluta da inocência do Bolsonaro”

BRUNO RIBEIRO E MARIANNA HOLANDA
DA FOLHAPRESS

Considerado o principal sucessor político de Jair Bolsonaro (PL), mas sob ataques do clã, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tentará conciliar a defesa do ex-presidente com uma estratégia de discrição durante o julgamento que definirá o futuro de seu mentor.

 

O governador de São Paulo, que vem sendo alvo de críticas diretas ou indiretas do bolsonarismo mais radical e dos filhos do ex-presidente, deve permanecer no Palácio dos Bandeirantes, em agendas internas, nos dias em que ocorrer a fase final do processo do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a trama golpista.

 

Confirmada eventual condenação, ele deve fazer coro a gestos de solidariedade ao aliado e contestá-la, mantendo o discurso de inocência do aliado. Mas, por ora, nenhum de seus parceiros políticos fala em ações mais agudas, como presença em outros protestos de rua contra o julgamento —exceto ao ato já marcado para o dia 7 na avenida Paulista.

 

Essas falas já vêm sendo expressas pelo governador. Em 21 de agosto, dia seguinte ao pedido de indiciamento de Bolsonaro e de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por obstrução ao julgamento, Tarcísio ressaltou que sua relação com o ex-presidente “vai ser como sempre foi, uma relação de lealdade, relação de amizade, relação de gratidão”.

Na sexta-feira (29), em um evento em Santo André, no ABC, ele disse ter “convicção absoluta da inocência do Bolsonaro” e que a acusação de tramar um golpe de Estado não fazia “o menor sentido”. “Eu acredito muito e tenho convicção absoluta na inocência e, se houver Justiça, ele vai ser inocentado”, disse. Em uma entrevista no mesmo dia, disse que o indulto ao ex-presidente seria seu primeiro ato como presidente.

 

Tarcísio fez apenas uma visita a Bolsonaro após o ministro Alexandre de Moraes colocá-lo em prisão domiciliar, no dia 4. Desde então, como a Folha de S.Paulo mostrou, intensificou agendas com empresários dos setores financeiro e agropecuário, artistas populares e o segmento evangélico, se expondo de forma menos velada à pré-candidatura presidencial.

 

Contudo, governador e ex-presidente mantêm contato constante por meio de Diego Torres Dourado, cunhado de Bolsonaro e assessor especial do governador. Segundo assessores de Tarcísio, o líder do clã não fez nenhuma ressalva aos passos do governador em direção à candidatura, o que foi interpretado como endosso.

 

As mensagens divulgadas entre Eduardo e seu pai, no relatório da Polícia Federal, mostraram que o deputado já tinha desconfiança em relação ao governador. Com as movimentações mais recentes de Tarcísio, esse tensionamento se acentuou.

 

Eduardo briga para manter consigo o título de sucessor de Bolsonaro, embora dirigentes do centrão e da direita prefiram Tarcísio. Como a Folha de S.Paulo mostrou, ele disse a interlocutores que pode se lançar ao Planalto, mesmo se o pai indicar outro nome, por entender que o fará sob pressão do mundo político.

 

Na sexta, Eduardo sugeriu que poderia deixar seu partido para disputar a Presidência por uma legenda menor.

 

Tarcísio, por sua vez, argumenta a interlocutores que não busca conflito com Eduardo e que continuará sem responder às provocações. Entre seus aliados, a cautela é interpretada como um cálculo para evitar criar impopularidade entre os eleitores do clã.

 

Um integrante da equipe do governo afirma que a postura de Tarcísio para acompanhar o julgamento tem relação com o campo aberto em que se encontra no momento. Para aliados próximos, embora haja um movimento em direção à candidatura presidencial, o governador não decidiu se esse de fato será seu caminho ou se tentará a reeleição em São Paulo.

 

Além disso, há preocupação em evitar que ele já seja definido como adversário de Lula (PT), o que o exporia a ataques diretos do petista e poderia gerar má vontade entre os governos.

 

A percepção de que enfrentará Tarcísio já fez Lula intensificar críticas ao potencial adversário. Na sexta, em entrevista à rádio Itatiaia, o presidente disse que o governador “não é nada” sem Bolsonaro.

 

No dia anterior, o governo federal havia turbinado a divulgação de ações contra o crime organizado ao saber que, em São Paulo, secretários estaduais participaram da apresentação da operação que mirou elos entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e a Faria Lima.

 

A postura de cautela com o julgamento que influenciará o futuro da direita também passará por outros governadores presidenciáveis. Interlocutores de Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, afirmam que não deve haver mudança de tom nas próximas semanas, a despeito das demandas bolsonaristas por mais provas de lealdade ao ex-presidente.

 

No caso dos dois governadores, já foram feitas críticas públicas ao processo no Supremo, num entendimento de que há exagero. Mas nenhum tem a pretensão de fazer enfrentamento à instituição ou aos magistrados. Tampouco sabem se comparecerão às manifestações de 7 de Setembro.

 

Já o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem sido, de todos, o mais crítico a Moraes, relator dos processos contra bolsonaristas no STF. Ele vai ao ato na avenida Paulista, segundo assessores, e deve seguir na mesma toada de questionamentos ao processo nas próximas semanas.

 

Os governadores têm sido cobrados por alas mais radicais do bolsonarismo por demonstrações de lealdade ao ex-presidente, que, no entendimento deles, passa por atacar Moraes e defender a candidatura de Bolsonaro —que está inelegível.

 

Os filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro têm expressado de forma mais contundente esse posicionamento, intensificando as críticas aos aliados. O vereador do Rio chegou a chamar os governadores de direita de ratos e oportunistas.

 

Eles atribuem a movimentação do mundo político por sucessores, sobretudo em prol de Tarcísio, ao “sistema” e criticam o que veem como oportunismo às vésperas do julgamento da trama golpista no STF, que pode condenar Bolsonaro a mais de 40 anos de cadeia.

 

Para parlamentares e dirigentes de centro e direita, a reação é uma tentativa de manter no clã o espólio eleitoral do pai. Além disso, avaliam que é uma forma de manterem a relevância eleitoral deles próprios, uma vez que serão candidatos no ano que vem.

 

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, tem tido uma postura distinta dos irmãos. Ele é hoje o principal porta-voz do pai no mundo político, responsável pelas articulações políticas do clã, e elogia Tarcísio a interlocutores.

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