Médico: “Dor de cabeça incessante e esquecimento são sintomas”

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A doença é a décima que mais mata entre os tumores em adultos; médico fala sobre o maio cinza

Reprodução

O oncologista André Crepaldi, que esclareceu dúvidas sobre os tumores cerebrais e outros tipos de cânceres

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

Especialista em tratamento de câncer, o médico  André Crepaldi, de 55 anos, afirmou que tumores cerebrais são raros, mas que são silenciosos e apresentam uma alta mortalidade, sendo o 10º que mais mata em adultos.

 

A explicação ocorre em meio à campanha do maio cinza, mês de conscientização e combate da doença.

Apesar de raro, ele tem uma mortalidade alta. Dentro dos tumores é a décima principal causa de morte

Segundo o especialista, em crianças e adolescentes, apesar de também ser raro, é o segundo mais frequente, “perdendo” apenas para a leucemia.

 

Entre os sintomas mais frequentes, que muitas vezes são negligenciados, estão a dor de cabeça persistente, crises convulsivas e epilépticas e alterações do comportamento ou períodos de esquecimento.

“Quando se tem sintomas diferentes, a pessoa deve ficar atenta e procurar ajuda, porque pode não ser nada, mas pode ser um tumor”, afirmou o médico.

 

O especialista falou também sobre alguns índices da doença, tratamentos e avanços na área.

 

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Qual é a importância dessa conscientização com o maio cinza? 

 

André Crepaldi –  Quando falamos de câncer as pessoas pensam nas campanhas de câncer de mama, de próstata, mas é preciso pensar que existem outros tumores, entre eles os cerebrais e que deve se pensar nele quando se tem sintomas relacionados ao cérebro, desde dores de cabeça, crises convulsivas, alterações de movimento e de alterações de comportamento. E uma vez que se tem um diagnóstico, buscar atendimento com especialista para que oriente o tratamento de forma correta.

No Brasil temos em torno de 11 mil casos por ano e em Mato Grosso são aproximadamente 200, entre homens e mulheres

MidiaNews – Os tumores cerebrais são raros? Quais são os índices dessa doença? 

 

André Crepaldi – São considerados raros e, muitas vezes, são silenciosos. Eles representam no máximo 4% dos tumores em adultos, mas são o segundo principal tumor em crianças e adolescentes de até 18 anos. Apesar de raro, ele tem uma mortalidade alta. Dentro dos tumores é a décima principal causa de morte. Quando falamos em cérebro, falamos também de coluna, da medula espinhal, do sistema nervoso central como um todo. Essa é uma região delicada, onde muitas vezes os tumores são difíceis de operar.

 

No Brasil temos em torno de 11 mil casos por ano e em Mato Grosso são aproximadamente 200, entre homens e mulheres. Não é um número alto se comparado ao câncer de próstata e de outros tumores, mas causa uma grande alteração da qualidade de vida e perda das funções. É silencioso, mas afeta áreas nobres.

 

MidiaNews – Tem influência de fatores genéticos? Quais são as principais causas?

 

André Crepaldi – Na grande maioria das vezes não tem uma causa. Existem alguns fatores de risco, entre eles síndromes genéticas em que o paciente herda um gene alterado e, durante a vida, aumenta muito o risco dele ter um câncer cerebral, entre outros tipos de câncer. A exposição à radiação é outro fator, irradiar um cérebro para tratamento, por exemplo, aumenta o risco de ter outros tumores. A exposição ao mercúrio, chumbo, arsênico e até o tabagismo aumentam um pouco o risco de tumores cerebrais. O narguilé, por ter as mesmas características do tabaco, também aumenta as chances. Portanto, o estilo de vida pode sim influenciar.

 

MidiaNews – Quais são os principais desafios quando se fala em tumores cerebrais?

 

André Crepaldi – O grande desafio é o fato dele ser silencioso e, quando se apresenta, muitas vezes, já  está com alterações graves. O segundo maior desafio é, após o diagnóstico, saber se será possível operar. Muitas vezes não é possível, porque ocupa uma região do cérebro que o cirurgião não consegue chegar ou porque o médico não consegue tirar o tumor sem causar danos ao cérebro.

 

MidiaNews – Quais são os principais sintomas da doença? É possível a pessoa não ter sintomas e mesmo assim ter a doença? 

Os tratamentos avançaram bastante e hoje as cirurgias são mais seguras e existem meios de monitorar o paciente no momento em que a operação está sendo feita

 

André Crepaldi – Um dos sintomas é a dor de cabeça. Apesar de ser comum, toda dor de cabeça que não melhora ou que aumenta de intensidade, que incapacita, deve-se procurar tratamento. Outros sintomas são crises convulsivas ou epilepsia, alterações do comportamento ou até períodos de esquecimento. Todos esses são motivos para procurar atendimento.

Outro fator é a perda de movimentos. Nesse caso, o tumor pode estar comprimindo algo no controle motor, por exemplo, de um braço, de uma perna… Essa incapacidade também é comum a outras doenças cerebrais, como o derrame. Quando se tem sintomas diferentes, a pessoa deve ficar atenta e procurar ajuda, porque pode não ser nada, mas pode ser um tumor.

 

Há exceções em que o paciente não tem sintomas e é diagnosticado por exame de rotina. Quando tem um traumatismo que não é grave, por exemplo, a pessoa faz o exame e acaba descobrindo o tumor.

 

MidiaNews – Quais são as alternativas de tratamento? Houve algum avanço nesse setor? 

 

André Crepaldi – Os tratamentos avançaram bastante e hoje as cirurgias são mais seguras e existem meios de monitorar o paciente no momento em que a operação está sendo feita, por meio de estímulos cerebrais em que ele fica meio acordado é possível ver se houve algum déficit, alguma alteração neurológica.

Outros avanços foram na análise do tumor, uma vez diagnosticado, a gente pode analisar o material para ver se tem alguma alteração para que possam ser usados medicamentos.

MidiaNews – A radioterapia é uma delas.

André Crepaldi – Sim. É o tratamento com radiação, em que também houve um grande avanço nos equipamentos. Antes, quando se tratava com esse método, o grande problema era que tratava uma lesão em um local e o raio passava em todas as partes. Hoje, com os novos equipamentos, se consegue tratar aquele tumor sem ter grande comprometimento dos tecidos e órgãos ao redor da lesão.

MidiaNews – Quais outros? 

André Crepaldi – Temos também a quimioterapia, em que alguns anticorpos são utilizados para tratar esses tumores. Eles funcionam como uma espécie de “míssil” e agem na região afetada. Temos a terapia-alvo, que são comprimidos que vão agir com mais precisão. Mas o tumor cerebral é um tumor que ainda tem muita pesquisa, porque vários deles não são sensíveis aos tratamentos ou têm uma alta taxa de recaída.

 

Dia a dia temos avanços em diversas áreas. Surgiu também a imunoterapia para vários tumores, que é um tipo de tratamento que está dentro do que a gente chama de quimioterapia, mas sendo um remédio que libera seu organismo a voltar a lutar contra os tumores. Porque o tumor cria mecanismos que inibem o nosso organismo de destruí-lo. Hoje, é usada como tratamento em várias situações e muitas vezes junto com quimioterapia para melhorar os resultados. A imunoterapia também pode ser usada em tumores cerebrais, mas não é tão rotineiro.

 

MidiaNews – Todo tumor é um câncer? 

 

André Crepaldi – Quando a gente fala em tumor, fala em um nódulo. É uma tumoração na pele que pode ser um nódulo de gordura, de câncer ou de outra coisa. Quando a gente fala em câncer denota uma neoplasia, ou seja, uma doença maligna. A palavra câncer por si só já é isso. Mas o tumor é uma lesão que pode ser câncer ou não.

Quando a gente fala em tumores cerebrais, existe um grande número de tumores diagnosticados que não são do cérebro, mas de fora dele e que se espalharam por outras regiões.

 

Quando a gente fala em tumores cerebrais, existe um grande número de tumores diagnosticados que não são do cérebro, mas de fora dele e que se espalharam por outras regiões. É o que chamamos de metástase. Um paciente, por exemplo, que tem um tumor de pulmão, que começou a ter uma alteração cerebral e que apresentou uma lesão no cérebro. Isso a gente não chama de câncer cerebral, é uma metástase de outro tumor. A grande maioria dos tumores diagnosticados no cérebro são metástases.

 

MidiaNews- A detecção precoce é a chave para um tratamento eficaz? 

 

André Crepaldi – Sim, buscar atendimento precocemente quando você tem o sintoma, porque muitas vezes a gente tem dificuldade no tratamento na rede pública. Praticamente todos os tumores diagnosticados precocemente melhoram as possibilidades de tratamento e de cura.

 

MidiaNews – Há formas de reduzir as chances de ter câncer ou realizar o rastreio?

 

André Crepaldi – Somente é possível o rastreio em casos de síndromes genéticas. Uma vez que faço o diagnóstico, acabo tendo esse rastreamento, pois há a necessidade de se fazer ressonância de repetição, de crânio, etc. Em outros casos, não existem exames preventivos.

 

MidiaNews – Houve aumento de casos nos últimos anos em pessoas abaixo de 50 anos? Se sim, quais os fatores? 

 

André Crepaldi – Não temos essa estatística referente ao tumor cerebral. Alguns tipos de tumores, sim, aumentaram, como o de mama, por exemplo, com um grande número de jovens com o diagnóstico, coisa que antes não víamos.

O câncer de próstata também tem aumentado. Mas não sabemos com exatidão o motivo disso, se é a modernidade, se é entrar em contato com alguma substância que ainda não sabemos que é capaz de aumentar o risco. A chance desses pacientes mais jovens se recuperarem é maior, geralmente porque não têm outras doenças como as pessoas de idade mais avançada.

 

MidiaNews – Que outros tipos de cânceres raros existem? 

 

André Crepaldi – Existem vários tipos raros para cada tipo de órgão afetado, por exemplo, na mama têm algumas situações de tumores que são bem incomuns. Têm tumores raros também na região que a gente chama de partes moles do corpo, que é o músculo, gordura etc. Em todos os tipos de cânceres existem alguns tipos que são incomuns.

O que é um desafio, porque é difícil tratar tumores raros,uma vez que a maioria dos tratamentos médicos se baseiam na história, ou seja, quando você pega um tumor raro, você não tem história para isso. Geralmente, nos baseamos nos relatos de quantos casos já se tratou e quantos cânceres foram curados para fazer o tratamento.

 

MidiaNews – Quais os cânceres mais letais?

 

André Crepaldi – Falamos do câncer do sistema nervoso central, do cérebro, que está em décimo lugar. Temos também o câncer de pulmão que tem uma mortalidade alta e é o terceiro em homens e o quarto que mais mata mulheres. O do pâncreas, por exemplo, por ser escondido atrás do abdômen, quase não apresenta sintomas e quando é diagnosticado já está avançado.

Outro tumor bastante expressivo, não em número, mas em agressividade, é o melanoma, um dos tipos de câncer de pele.

 

MidiaNews – O estresse pode ser um fator agravante? 

 

André Crepaldi – Pode ter relação, assim como a depressão. É uma coisa bastante falada e vemos isso no dia a dia. Sabemos que são coisas que afetam o sistema imunológico e acabam propiciando doenças, entre elas o câncer. Temos as doenças inflamatórias, as alergias, etc. Porque acaba fazendo uma disfunção do sistema imune do organismo.

 

MidiaNews – O ator Reynaldo Gianecchini foi diagnosticado com linfoma não Hodgkin. Poderia falar um pouco sobre esse câncer, seu diagnóstico e o tratamento?

 

André Crepaldi – O chamamos de câncer hematológico. Afeta geralmente os gânglios do corpo, as ínguas, que passam a ter crescimentos. Pode também ter alterações no sangue e na medula do osso. Mas o mais comum é o crescimento de ínguas pelo corpo, seja no pescoço, embaixo do braço ou virilha.

O diagnóstico é feito geralmente por meio de uma biópsia e o tratamento varia bastante, mas na maioria das vezes inclui o uso de quimioterapia. Tem uma variabilidade grande, são vários tipos de linfoma. A doença tem cura, mas vai depender do tipo de linfoma, do tamanho e se está localizado só em uma região, se já está espalhado em vários pontos do corpo. Outra alternativa, além da quimioterapia, é o transplante de medula óssea. Ele não chega a ser um câncer raro, na estimativa é o 9º mais comum em homens e o 10° em mulheres.

 

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